A Nissan cansou de ser “boazinha”. Pegou todo o arrojo que falta ao departamento de design e aplicou no marketing. O resultado você deve ter visto na TV, antes de a propaganda ser retirada do ar pelo Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), por conta de um processo aberto pela Chevrolet. Se não viu, vamos fazer um remember. Na peça, a marca japonesa ironiza a concorrência, que cobra de seus “engenheiros” um motivo para não ter recebido os mesmos prêmios que a imprensa especializada deu à Livina. Apesar de os rivais não terem gostado, a Nissan afirma que o comercial teve aceitação positiva dos consumidores, com mais de 122 mil visualizações na internet em menos de uma semana.
A propaganda gerou boas discussões em nosso blog, e a maioria aprovou a ação do fabricante japonês. Particularmente, acredito que foi uma ótima forma de a Nissan chamar a atenção para um carro que, definitivamente, não chama a menor atenção. Ou seja, saldo positivo. A questão é que nesse meio tempo a Fiat não ficou só levando pedrada, mas também deu vida nova ao Idea, com visual remoçado e motores E.torQ. Será suficiente para desbancar o Livina?
Olhando de fora, o Idea larga na frente. Na teoria, apenas a dianteira mudou para valer, enquanto a traseira se resume à nova tampa e lanternas. Mas, na prática, quanta diferença! É curioso como o Idea passou a chamar atenção, ganhou elegância. E não é só design: os novos faróis de dupla parábola iluminam melhor, as lanternas de leds brilham mais forte (são vistas de longe pelos demais motoristas) e o retrovisor evoluiu duplamente. A peça cresceu, o que ampliou o campo de visão (ponto crítico do modelo antigo), e agora vem com repetidor de seta embutido.
Quanto ao Livina, bem, discreto é a melhor palavra para definir o monovolume. Como reconheceu até um ex-funcionário da marca, o design dos Nissan ainda não está à altura do conjunto dos carros. “A Nissan precisa de um Peter Scheryer”, disse ele sobre o designer que está revolucionando o visual dos modelos da Kia.
O refinamento do Idea também se estendeu à parte mecânica, com a adoção dos motores E.torQ. Já havíamos testado (e aprovado) a versão Adventure 1.8 16V, faltava a Essence 1.6 16V. Por ser um carro de comandos leves – direção, câmbio e pedais –, o silêncio e a suavidade de funcionamento do E.torQ caíram como uma luva. Basta ver a diferença de ruído interno em relação ao rival, na tabela de testes. O desempenho é semelhante ao do Punto com o mesmo motor. É preciso acelerar um pouco mais nas saídas, e convém reduzir uma marcha antes de fazer uma manobra de mudança de pista ou ultrapassagem, pois falta força abaixo de 2.000 rpm. Acima disso, as respostas agradam. Na pista, o Idea de 117 cv e o Livina de 108 cv (com motor 1.6 16V emprestado da Renault) andaram lado a lado nas acelerações, com empate de 11,9 s no 0 a 100 km/h. Nas retomadas, o Nissan fez valer sua relação de marchas mais curta. Isso se traduz em agilidade na cidade, onde o Livina se mostra mais esperto, principalmente em baixas rotações. Na estrada, o Idea viaja mais “solto”.
Embora ambos compartilhem o estilo monovolume, eles diferem no estilo de condução. O Livina leva jeito de sedã, com centro de gravidade mais baixo, assim como a posição ao volante. O câmbio tem engates mais curtos que os do Fiat, enquanto a suspensão é um pouco mais firme. Ainda assim, ambos são confortáveis em ruas esburacadas e não assustam o pai de família numa condução sem excessos – ao exagerar, os dois balançam bastante a traseira nas curvas. A direção é sensível demais em velocidade, nos dois casos.
O Idea agrada a quem gosta de ver o trânsito de cima. Além de ter o ponto “H” elevado, ainda oferece ajuste de altura do banco. O problema do Fiat está mais embaixo, na posição dos pedais. Como eles são deslocados à direita, você fica meio torto para pisar na embreagem, ao passo que sua perna direita viaja encostada na parte central do painel. E as falhas de ergonomia não param por aí: os comandos dos vidros elétricos estão mal posicionados (os botões das janelas de trás ficam mais perto da mão do motorista que os da frente) e as saídas de ar são baixas como no Palio, modelo do qual o Idea deriva.
O Livina também não esconde que veio de família simples (a plataforma é do Logan). Falta ajuste de altura do banco e dos cintos, o terceiro encosto de cabeça atrás... O acabamento usa peças de plástico barato, as borrachas de vedação são pintadas de cinza (parece carro chinês) e as colunas dianteiras trazem revestimento amarelado (parece carro velho). A economia levou ainda as forrações fonoabsorventes, sem falar nos vidros, que têm espessura reduzida. Como resultado, esse Nissan é bastante comunicativo. O barulho do motor invade a cabine sem cerimônia em altas rotações, além de ouvirmos outros ruídos vindos da parte mecânica. O Idea não é referência de acabamento, mas a cabine passa melhor impressão, com bancos mais confortáveis e “mimos” como espelhinho para vigiar o banco de trás, porta-trecos no teto e computador de bordo. No Livina, o porta-mapas das portas é estreito até para pôr a mão.
Em termos de espaço, o Nissan não reverte seu maior porte em conforto para quem viaja no banco de trás. Pelo contrário, o Fiat trata melhor os passageiros por ter o assoalho traseiro praticamente plano e o teto mais alto. Porém, quando o assunto é levar bagagem, o Livina abre boa margem: 412 litros contra 315 l, ambos aferidos. É como deixar uma mala grande de fora do Idea, sem contar que o porta-malas do Nissan tem menos reentrâncias que o do Fiat.
Se até aqui o debate está acirrado, vamos deixar a decisão por conta dos custos. E novamente a coisa parece caminhar para um empate: o Idea Essence parte de R$ 45.610 e o Livina começa em R$ 45.990. Só que o Fiat não vem nem com ar-condicionado, enquanto o Nissan traz ar e direção elétrica (hidráulica no rival).
Considerando o Livina SL usado no teste, temos um carro de R$ 50.990 que vem de série com ar, duplo airbag, freios ABS, bancos de couro, rodas de liga, faróis de neblina e CD player. Para que o Idea fique no mesmo nível de equipamentos, o preço salta para R$ 56.517, uma diferença que nem o seguro mais barato do Fiat é capaz de compensar. Consumo? Na média entre cidade e estrada, deu Livina. Para completar, a Nissan oferece três anos de garantia, contra um do concorrente. No fim, o debate da TV confirmou o que acontece na realidade.
Moral da História
O Idea tem mais condições de fisgar o consumidor pelo lado emocional. É um carro mais bonito, bem-acabado e que pode ter luxos como sensores de chuva, iluminação e de estacionamento, além do teto solar panorâmico. Mas cobra um extra por isso. A versão de entrada não vem com ar-condicionado, e o acréscimo do opcional abre boa distância para o valor do Livina, que já traz o item de série. Fora isso, o modelo da marca japonesa oferece três anos de garantia, contra um da empresa italiana. O Livina pode ser um carro despojado, mas num comparativo tão apertado como esse, o fator bolso foi decisivo. Na ponta do lápis, o Nissan leva a melhor.
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