207 VS Agile


 Fabio Aro
207 1.4 e Agile 1.4 foram feitos para quem ultrapassou a barreira dos 1.0 Ele tem desenho da dianteira que não conversa com o da traseira, motor 1.4 Flex e, apesar de ser uma novidade, traz muitos elementos de carros dos anos 90. Estamos falando do Chevrolet Agile... Ou seria do Peugeot 207? A apresentação serve para os dois. Aliás, eles têm algo mais em comum: são o degrau imediatamente acima de quem deseja sair dos 1.0. Na Peugeot, o 207 matou o 206, enquanto na GM o Agile vem destruindo o que resta do Corsa (que some de vez no ano que vem). E há mais gente rumando nessa direção. Para você ter uma ideia, em 2002, 65% dos carros vendidos no Brasil eram 1.0. No ano passado, a participação dos chamados “populares” caiu para pouco mais de 50%.

Preço e design são as razões que definem a compra nessa faixa, como apontam as pesquisas das fabricantes – e aqui daremos um voto de confiança a elas. Então vamos liquidar esse ponto de cara: na versão de entrada, a LT, o Agile sai por R$ 34.040. O 207 X-Line parte de R$ 29.900. Com ar-condicionado, direção hidráulica e vidros elétricos (os itens mais procurados por essa turma), o preço do Chevrolet pula para R$ 38.276. O 207 XRS traz os mesmos itens e, de quebra, rodas de liga leve e vidros elétricos traseiros, por R$ 38.900. O seguro de ambos gira em torno de R$ 1.500.

 Fabio Aro
Maior, o Agile leva 337 litros de bagagem no porta-malas, contra apenas 222 litros do Peugeot
Na primeira prova, a do bolso, Agile e 207 estão lado a lado. E em design? Eles também não se desgrudam – não quanto às linhas, mas em polêmica. Se em 2008 o Peugeot foi indiscutivelmente o campeão de críticas, em 2009 o crucificado foi o hatch da Chevrolet. Pelo menos é o que mostram os e-mails recebidos por Autoesporte. E os leitores têm razão. Repare bem nas imagens da dupla e veja como falta harmonia ao desenho entre a parte da frente e a de trás. No 207, a tentativa dos designers foi dar uma cara de 207 europeu ao antigo 206. Ficou na tentativa. No Agile, primeiro produto desenvolvido no novo Centro Tecnológico da GM no Brasil, o erro foi dar proporções exageradas aos faróis e grade dianteira. “É moda”, diz o pessoal da Chevrolet. Pode ser, mas nesse caso a camisa não combina com a calça.

 Fabio Aro
O pior da dupla é a traseira do 207 e a dianteira desproporcional do Agile, com grade e faróis enormes
Ao entrar nos carros, as semelhanças começam a desaparecer. É inegável que o Agile é mais agradável aos olhos, pernas e mãos. Embora feito sobre uma plataforma derivada da primeira geração do Corsa, de 1994, o Agile cresceu para os lados e para cima em relação ao velho irmão. Quatro passageiros de estatura média viajam com conforto. Cinco? Bem, alguém nessa história irá chiar. Aproveite para avisar quem está na turma de trás que tenha cuidado ao entrar e sair do carro. Devido ao caimento acentuado da altura do teto a partir da coluna central (exigência dos designers para dar um ar de cupê ao hatch), a chance de você bater a cabeça é alta – digo por experiência própria.

Na cabine do Peugeot, a sensação é de que regredimos dez anos. O 207 recebeu reformas no painel para se parecer com o modelo europeu. Contudo, mais uma vez, a ação não passou de tentativa. Tudo nele lembra o antigo 206, lançado em 1998. Ou seja, o espaço é reduzido, falta porta-copos (OK, há dois, inúteis, no porta-luvas) e o apoio de cabeça dos bancos fica longe da cabeça dos passageiros. A idade expõe também descuidos ergonômicos como a posição dos botões dos vidros elétricos no console central, ao lado da alavanca do freio de mão. Se você procurar pelo ajuste do retrovisor externo, o encontrará na mesma região incomum. Porém, não pense que no Agile a situação é muito melhor. O sistema de som, na parte de baixo do painel, obriga a desviar a atenção e as mãos para ajustá-lo. E, embora a GM negue, o volante do Agile é, sim, deslocado à direita. Em menor grau, porém, que a inclinação existente no Celta.

  Fabio Aro

Quanto ao acabamento, aconselho que você passe a mão nos tecidos que forram os bancos e no plástico presente no painel e nas portas. Você sentirá, com certa facilidade, que os materiais usados no Agile são de melhor qualidade. Mas vá com calma, não espere encontrar esmero como encaixes perfeitos e superfícies lisas. Na versão LT, o hatch da GM tem detalhes de acabamento em acrílico escuro, e os bancos, apesar do bom tecido, perdem os desenhos em baixo relevo da opção topo de linha. O “teste do tato” no 207 revela um carro bom, mas para a década passada. Tecido, plástico e forro estão defasados.

É hora de acelerar. Você deve ter reparado nas fotos que o 207 está sempre à frente do Agile, certo? Foi de propósito. O motorista do Agile estava cansado de ver o 207 apenas pelo retrovisor. Na pista, o hatch da Chevrolet andou o tempo todo na frente. Com até 102 cv e 13,5 kgfm de torque, o 1.4 do Agile é capaz de levar o hatch de 1.075 kg da imobilidade aos 100 km/h em 13,1 s. O Peugeot, 46 kg mais leve, e com 82 cv e 12,8 kgfm, leva 15,4 s. Nas retomadas e na velocidade máxima, o Agile também ganha. Em consumo, o 207 contra-ataca: faz, com álcool, média de 9,1 km/l, contra 8,8 km/l do Chevrolet – que por sua vez demora mais tempo a visitar o posto de combustível, por causa do tanque maior (54 x 50 litros).

 Fabio Aro
Alavanca de câmbio do Agile é alta, e há diversos elementos no quadro de instrumentos. No 207, é fácil de ler os dados de velocidade
Se o motor do Agile mostra força, ele também vem exibindo falhas em algumas unidades. Um modelo que ficou 40 dias em avaliação na Autoesporte apresentou problema na bobina. A GM nega qualquer defeito crônico no motor. A marca não desmente, porém, que deixou de equipar o hatch com um isolante térmico no escapamento, que esquenta a base do porta-malas. Já que estamos falando do bagageiro, o do Agile é o maior da categoria, com 337 litros, contra 222 l do Peugeot. Diferença suficiente para levar uma mala grande a mais.

A disputa que começou acirrada foi pendendo para o Agile conforme o comparativo avançava. É certo que o Chevrolet está longe de ser um carro refinado, exibe descuidos impensáveis para sua faixa de preço, mas traz soluções modernas como altura elevada, bom espaço – tanto para passageiros como para bagagem – e desempenho esperto. O pequeno Peugeot, que no final dos anos 90 era referência em vários pontos, envelheceu, mesmo com a recente maquiagem. Perdeu o bonde da história, o fôlego e as vendas. Por isso a Peugeot já trabalha no 208, este sim uma evolução completa.


  Fabio Aro

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