Com visual mais elegante, perua ganha melhor acabamento e versão automatizada para combater o monovolume da marca japonesa
Quem compra um carro familiar compacto está mais em busca de novidade do que de espaço propriamente dito. Pelo menos é o que revelam as vendas do setor, que responde por cerca de 9% do mercado nacional. Se uma perua é lançada, a venda de peruas avança sobre a dos monovolumes. Quando um novo monovolume chega, as peruas recuam. Ou seja, o consumidor não liga muito se está levando para casa uma perua ou um monovolume, desde que seja lançamento.
Seguindo esse raciocínio, é hora das peruas: a SpaceFox acaba de receber as mudanças do novo Fox. “Agora temos acabamento caprichado e versão automática, coisas que devíamos ao rival”, diz Fabrício Biondo, gerente de marketing da VW, referindo-se ao Fit. O que Biondo não disse foi que agora a perua da VW também tem (quase) o preço do Honda, ao menos nas versões comparadas aqui. A SpaceFox Sportline I-Motion custa R$ 57.500 mil. O Fit LX A/T sai por R$ 58.905.
Assustado com o valor da SpaceFox? O lado bom é que ar, direção e trio elétrico estão presentes desde a versão básica (câmbio manual), que parte de R$ 48.790 mil. A Sportline I-Motion acrescenta sensores de chuva e iluminação, computador de bordo, rodas de liga, duplo airbag e ABS, tudo de série. Menos equipado (cadê os freios ABS, Honda?), o Fit tem como vantagem a garantia de três anos, contra um da Volkswagen.
Estaciono a Space ao lado do Fit e o fotógrafo Fabio Aro emenda: “Ficou parecendo uma Jetta Variant em escala reduzida”. Sinal de que a intenção da VW (elevar o patamar da perua) deu resultado. A frente é a mesma do novo Fox, com a diferença de que a Space tem frisos cromados na grade e na tomada de ar abaixo da placa. Atrás, as lanternas ficaram mais caretas, mas a grande novidade aparece quando a noite cai: acesas, as luzes têm belo efeito visual. E não dá para negar que a SpaceFox ganhou em elegância, com aspecto mais formal.
Mas o que realmente mostra a nova postura da Space é o interior. Se no Fox antigo aquela “capelinha” que concentrava os instrumentos ficava minúscula, imagine na perua, com a cabine ainda mais ampla? Pois bem, o que era motivo de rejeição agora se tornou argumento de venda. O novo painel é bonito, de ótima visualização, bem construído e com materiais que agradam aos olhos e ao tato. Ficou melhor, mas não desbanca o Fit. Com instrumentos envoltos por “copinhos” no painel e boa distribuição dos comandos, ele é ainda mais bacana.
Fora isso, o motorista do Honda viaja melhor. Os bancos são mais confortáveis e permitem uma posição mais baixa (na Space vai de alta a muito alta). Além disso, o amplo para-brisa e as janelinhas laterais proporcionam visibilidade excelente. A Space carrega um problema de projeto: as largas colunas dianteiras, que prejudicam a visão. E ainda não foi dessa vez que a VW mudou a alavanca de ajuste da altura do banco. Como ela fica quase na altura do assento, é praticamente impossível entrar ou sair do carro sem esbarrá-la, desregulando o banco.
Os volantes parecem de categoria superior – e são. O do Fit lembra muito o do Civic. Já a Space pode receber (como opcional) a mesma peça do Passat CC, com direito a borboletas para trocas de marcha (também pagas à parte). E isso já antecipa outra novidade do carro da VW, o câmbio automatizado ASG da versão I-Motion. Mas, antes de andar, vamos para o banco de trás.
Espaço é o que não falta em nenhum dos dois, mas a porta traseira do Fit permite melhor acesso à cabine. O Honda ainda tem como virtude o túnel central mais baixo, que melhora a vida do ocupante do meio – ele também tem direito ao cinto de três pontos, item indisponível no VW. Outra sacada é o tanque de combustível sob os bancos dianteiros, que livra espaço sob o banco de trás e ainda permite rebater os assentos para cima (para levar objetos altos). A SpaceFox traz mesinhas tipo avião nessa versão Sportline, além do banco traseiro corrediço em todas as versões. Com esse recurso, a perua permite ampliar o já bom porta-malas (que varia de 430 a 527 litros), enquanto o do Fit não passa de 345 litros (aferidos).
O monovolume, porém, dá show nos porta-objetos: há um ótimo à frente do câmbio, com diversas divisórias, e os porta-copos ficam nas saídas do ar-condicionado, para manter as bebidas geladas. A perua também não deixa a desejar, com porta-garrafa nas portas e uma gavetinha sob o banco do motorista (que, de certa forma, compensa o pequeno porta-luvas).
A Space arranca fritando os pneus na prova de aceleração, coisa que o câmbio ASG permite fazer. Como efeito, o 0 a 100 km/h é quase igual ao da versão com pedal de embreagem (12,8 s contra 12,5 s). O que o ASG não iguala são as trocas suaves do câmbio automático do Fit, ainda que seja o melhor dos automatizados no quesito trancos. Exclusiva do carro da VW é a opção de trocas manuais no volante, o que dá um tempero à condução. Resumindo, a caixa automatizada pode conquistar quem veio de um manual. Mas quem já teve um automático vai preferir o carro da Honda.
Aliás, o Fit LX 1.3 16V (que a Honda chama de 1.4) surpreendeu pelo desempenho muito próximo ao do EXL 1.5 16V. Ao lado da Space, que adotou o motor 1.6 VHT em 2009, a diferença nas acelerações e retomadas foram pequenas em favor do VW – embora não a ponto de compensar o que o câmbio automatizado perde em conforto. Ambas as transmissões têm cinco marchas, mas a relação mais longa do Fit o deixa mais solto na estrada: a 120 km/h, o conta-giros aponta 2.500 rpm, contra 3.100 rpm da Space.
Em tese, isso beneficia o consumo rodoviário, que ficou em 10,9 km/l no Fit com etanol. Como o teste da Space foi feito em pista fechada, ficamos devendo esse número. A VW diz que o Cx mais baixo do novo design (0,336, ou 6% melhor) favoreceu a economia. De qualquer forma, o consumo na estrada não deve ser muito diferente dos 9,7 km/l que registramos com o Fox 1.6.
Na suspensão, a Space estreia um novo acerto de amortecedores, que deixou o relevo do piso menos perceptível. Ao lado do “durinho” Fit, a perua passa mais suave sobre pisos ruins sem perder o bom comportamento nas curvas. Também muito equilibrado apesar dos pneus finos, o Honda agrada pela direção elétrica leve na cidade e firme em altas velocidades.
Fim do teste. Enquanto a SpaceFox sobe no caminhão para voltar à VW (ainda era segredo), o Fit ruma para a redação com a vitória do comparativo, mas sem respirar aliviado. Afinal, o rival ficou mais forte do que nunca, e ainda tem o apelo do fator novidade.
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