Touro Bravo



Sant’Agata Bolognese, Itália. Em uma quente manhã do verão europeu rumamos para uma região mágica para os apaixonados por carros e motocicletas: a Terra di Motori, local próximo de Bolonha que abriga as fábricas de Ferrari, Ducati e do nosso grande destino, a célebre Lamborghini. Por volta das 9h30, cruzamos os portões da empresa e observamos algo curioso: à direita é possível ver o prédio original (erguido na década de 50), que convive com o novo e moderno anexo, inaugurado em 2000 para abrigar o museu da fabricante. E é justamente abrigado em uma sombra entre essas duas construções que nossa macchina nos espera: um Murciélago LP 640 Coupé.
Quem olha a chave, em princípio, pode até estranhar. Ela é igual à do novo Volkswagen Gol, do tipo canivete, mas obviamente com o logotipo do touro estampado. Mas só de segurá-la na mão e pensar no que vem pela frente, um friozinho na barriga começa a nos fazer esquecer um pouco do calor. Por enquanto ainda não há nada de novo no corpo do Murciélago. Seu chassi tubular de aço com elementos de fibra de carbono continua embalado na mesma carroceria atualizada em 2006. Coube ao Murciélago a honrosa atribuição de substituir o Diablo, um dos automóveis que ajudou a consolidar a tradição da Lamborghini na criação de superesportivos.
Seu designer, Luc Donckerwolke, levou em conta, dentre outras influências, as formas do bombardeiro norte-americano B2 Stealth, invisível aos radares graças à sua superfície recortada, para criar o desenho do bólido. Por meio do capô transparente, peça vendida como opcional, observar o tamanho e o cuidado nos detalhes do bloco 6.5 V12 desencadeia um sentimento de admiração só superado pelo seu ronco. Com tudo pronto, vamos ao momento tão aguardado: uma volta por estradas vicinais ao redor das instalações da empresa, as quais, inclusive, servem para o teste de cada “novilho” recém-saído da linha de montagem, já que a Lamborghini não possui autódromo.
As portas “tesoura” são abertas suavemente ao toque da maçaneta, mas requerem certo cuidado na rua e ao entrar no habitáculo. No interior, um requintado sistema de entretenimento agrega, em uma tela de 6,5”, funções de MP3 player, rádio e navegação. Além de rodar DVD, ele exibe as imagens da câmera para manobras em marcha a ré. Mas, acredite, você não vai nem querer tocar nele quando a ignição for acionada. O interior da unidade avaliada possuía revestimento em Alcantara, mas o modelo pode ser até 80% personalizado ao gosto do freguês, incluindo a tonalidade do couro e o revestimento de portas e painéis.
Tourada no asfalto
Segundo a história, Murciélago é o nome de um touro que foi poupado da morte em 5 de outubro de 1879 pelo toureiro Rafael Molina. Um fato raro em eventos desse tipo, os historiadores contam que Molina notou traços de nobreza e coragem no animal que o fizeram evitar o golpe de misericórdia. Logo após, Murciélago foi entregue à família Miura (lembra daquele modelo da Lamborghini que chegou a ganhar uma réplica no Brasil? Então...), a qual ficou responsável por criar uma nova raça utilizando-o como matriz. E, assim como deve ter pensado Molina, é preciso certa dose de coragem para quem quiser andar forte com o Murciélago de metal.
Uma pisada com vontade no acelerador e o motor desperta como um aglomerado de bumbos de uma orquestra tocando simultaneamente com um ruído estridente no final. É algo cativante. Para lidar com os 640 cv de potência a 8 000 rpm e 67,3 kgfm de torque a 6 000 rpm, a transmissão manual automatizada sequencial de 6 velocidades E-gear produz alguns trancos tão intensos a cada passagem de marcha que fará você se sentir no melhor dos mundos a bordo de um carro com câmbio Dualogic ou I-Motion.
Os assentos lembram os do Honda Civic Si ou os de um Mercedes-Benz preparado pela AMG, porém você fica literalmente preso no banco devido às abas laterais. Uma característica brilhante no tipo de construção da Lamborghini é que seus modelos são curtos (4,61 m no caso do Murciélago) e o propulsor fica instalado bem próximo da cabine. Em rotações mais altas, a medida que a agressividade nas respostas do Murciélago aumenta, o V12 transmite um pouco de vibração para o habitáculo, instigando o motorista a acelerar ainda mais. Aliás, a sigla LP de seu sobrenome significa Longitudinale Posteriore (longitudinal traseiro), uma referência à posição em que o motor vai instalado.
Mas é claro que, assim como seu antecessor cuja vida foi poupada, o Murciélago automotivo mostra seu traço de nobreza com uma sensação plena de segurança. A tração integral permanente e o conjunto com suspensão independente double wishbone nos dois eixos seguram o cupê com afinco no asfalto. De acordo com a Lamborghini, esse pacote permite ao Murciélago LP 640 alcançar os 100 km/h em apenas 3s4 e fazer o velocímetro seguir até os 340 km/h de velocidade máxima. Para controlar todo esse ímpeto, os freios tem pinças de alumínio com 8 pistões nas rodas dianteiras e 4 nas traseiras.
Gostou do brinquedo apresentado acima? Então basta possuir ter entre R$ 2,2 e R$ 2,5 milhões dando sopa no banco que você estaciona um na garagem. Desde outubro, a marca conta com representação oficial no país, primeiramente com apenas uma loja em São Paulo.
Por enquanto, o Gallardo será o responsável por abrir as portas da Lamborghini no país, mas o Murciélago chegará em seguida. A expectativa dos empresários é audaciosa e eles esperam comercializar 12 unidades ainda neste ano, 20 em 2010 e mais 25 em 2011. Dependendo dos itens de personalização escolhidos, a unidade poderá levar de três a quatro meses para ser entregue ao mais do que feliz futuro proprietário.

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